Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados

Compreensão de Textos é quando você entende o que o texto diz de forma explícita, ou seja, aquilo que está na superfície do texto.

Interpretação de Textos é quando você entende o que está implícito nas entrelinhas, isto é, aquilo que está de modo mais profundo no texto ou que faça com que você realize inferências – tire suas próprias conclusões.

Compreender e interpretar um texto são como duas partes de uma mesma tarefa. Quando você compreende bem o que está lendo e qual é a mensagem que o texto quer passar, você consegue tirar conclusões sobre ele – e isso é o que chamamos de interpretar.

Como vimos na introdução da aula, a interpretação de textos envolve a capacidade de tirar conclusões após fazer a leitura de algum tipo de texto (visual, auditivo, escrito, oral).

Por isso, a interpretação é algo pessoal e pode ser diferente de pessoa para pessoa, porque cada um tem um jeito único de entender as coisas, baseado no que aprendeu ao longo da vida.

É importante lembrar que esse “jeito de interpretar” está muito ligado à leitura frequente. Por isso, ler muito é fundamental, pois ajuda na melhor interpretação dos textos e conexão das ideias.

Compreensão e Interpretação para Concursos

Pela minha experiência em aulas para concursos, percebo que há uma grande dificuldade dos alunos em relação à interpretação de textos.

Boa parte dos candidatos reclamam que não se sentem confiantes e não sabem como fazer para responder às questões. E isso é preocupante. A interpretação de textos vem tendo uma participação cada vez maior no número de questões das provas. Algumas bancas cobram textos bem longos já em seu enunciado.

Por isso, quero tratar desse assunto e desvendar as técnicas de interpretação, para que você tenha mais segurança na hora da prova e saia na frente dos seus concorrentes!

Macete

Uma dica super simples e que ajuda demais na prova é memorizar algumas formas como são feitas as perguntas nas provas.

Questões ligadas à compreensão de texto normalmente têm maior relação com o autor e utilizam estas formas:

◇ O texto diz que
◇ Segundo o autor
◇ De acordo com o que foi lido
◇ O texto informa que
◇ O escritor sugere que

Já as questões de interpretação de textos estão mais ligadas a quem lê e menos a quem escreveu. Elas consideram as ideias ou conclusões às quais o leitor pode chegar com base no que está escrito. Geralmente, são formuladas da seguinte maneira:

◇ Conclui-se que
◇ A partir do que foi lido, pode-se dizer que
◇ O texto permite entender que
◇ Com base no texto, deduz-se que
◇ Pode-se concluir que

Guarde isso, vai te ajudar muito a “sacar” o que a banca está cobrando de você na prova!

Segundo o linguista José Luiz Fiorin, um texto é “um todo organizado de sentido” e isso significa que “o texto é o conjunto formado de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma depende do sentido de outra.” (SAVIOLI, F. P.; FIORIN, J. L. Lições de texto – leitura e redação. São Paulo: Ática, 2011, p. 49).

Isso significa que essas partes solidárias são as ideias que formam o texto completo.

Se as partes de um texto são solidárias, ou seja, trabalham juntas, isso significa que, para entender a mensagem expressa em um texto, o primeiro passo é ler o texto inteiro. Ler apenas uma parte do texto pode nos levar a interpretações equivocadas.

Nos concursos, o tipo de texto que mais aparece em provas é o texto escrito, como o que lemos em jornais, apostilas e livros. Mas, às vezes, o texto será não verbal, como em quadrinhos, anúncios publicitários, infográficos etc. E todos eles precisam ser lidos por completo!

Veja o exemplo:
Exemplo Interpretação de textos tirinhas

O que você pensaria de um time de futebol que só perdeu dois jogos desde que o novo técnico assumiu? Parece uma coisa boa, não é? Com certeza! Perder só duas partidas é ótimo, porque quanto mais vitórias o time tiver, melhor ele vai se sair no campeonato.

Se lermos apenas esses dois quadrinhos, dá pra concluir que o time está indo bem com o novo técnico e que os torcedores têm bons motivos para estar felizes. Mas a história da tirinha não acaba aí. Vamos ver o que mais acontece:

Exemplo Interpretação de textos tirinhas 2

E agora, o que você diria se seu time jogasse duas partidas e perdesse as duas?

Com a leitura completa da tirinha é possível entender o humor que o autor coloca na situação, algo muito comum para muitos brasileiros que adoram esportes e discutem com paixão os resultados do time do coração. O que parecia ser algo positivo no começo, agora ganha outro sentido, e vemos que o otimismo de uma das cobras não se justifica pelo número de jogos e vitórias do time.

Somente a leitura completa da tirinha é capaz de mostrar ao leitor o real significado que o autor deu ao seu texto.

Ideia Central

Ideia central é aquela que permanece do início ao fim de um texto. O ideal é ler o texto para identificar do que se trata e delimitar o tema o máximo possível.

E o que seria delimitar?
É determinar limites, demarcar, estabelecer limites.

Por exemplo: Muitas vezes o aluno afirma que o tema do texto é “mulher”.

Mas “mulher” é um tema muito amplo.

Tente delimitar, ou seja, pôr limites.
O aluno afirma: Ah, entendi! O tema do texto é “A mulher na política”.

OK, já melhorou, mas podemos delimitar ainda mais.
Que tal: “A discreta representatividade da mulher na política”

Isso é identificar a ideia central do texto.

Vamos observar como funciona na prática!

Questão de Concurso – FGV – 2022 – Analista TCE TO

Z de depressão (fragmento)

“Quando o sol nasce em Minas Gerais, Caio está em seu quarto. Ao cair da noite, também é lá que o rapaz fica, isolado. Ele tem 21 anos e mora em Luz, cidade mineira de pouco mais de 18 mil habitantes. Até os 8 anos, levou a vida tranquila de alguém que cresce numa cidade pequenaaMas então um dos seus tios se matoub, e o menino foi se tornando cada vez mais triste. Virou alvo de bullying na escola, perdeu os amigos – ‘não sobrou ninguém’, ele conta. Aos 10 anos, tentou suicídio e precisou ser internado às pressas. […]

Na adolescência, Caio identificou que era um homem transgênero, e sua sensação de isolamento só cresceu. Com o agravamento do quadro depressivo, foi levado ao hospital algumas vezes depois de se automutilar. Embora os médicos tenham recomendado, ele nunca tratou a depressão por um longo período de tempo. Cresceu encontrando pequenos alívios para a angústia: cachorros, namoradas, bebidas alcoólicas, cortes nos braços. Conseguiu terminar o ensino médio, mas não teve motivação para prestar vestibular ou trabalhar. […]

Caio representa uma história, mas não a única, de um quadro de adoecimento mental de crianças e jovens brasileiros, com casos repetidos de depressão, ansiedade e síndrome do pânicoc. […] Em um Boletim Epidemiológico divulgado setembro passado, o Ministério da Saúde apontava que as taxas de suicídio saltaram 116% entre crianças e adolescentes de 5 a 14 anos no intervalo de 2010 a 2019; nos jovens de 15 a 19 anos, o aumento foi de 81%. Nas demais faixas etárias, a taxa não cresceu mais que 30%. Os dados levaram o governo federal a classificar o suicídio como ‘um problema de saúde pública crescente no Brasil, com destaque aos grupos etários mais jovens’.

[…]

Entre junho e novembro de 2020, [Guilherme] Polanczyk e outros pesquisadores da USP e do Hospital das Clínicas entrevistaram remotamente 5.795 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos de todas as regiões do país para medir os efeitos da pandemia sobre a saúde mental deles. No segundo semestre do primeiro ano de isolamento, 36% apresentaram sintomas de depressão e ansiedade. Como as escolas estavam fechadas e seria perigoso realizar as entrevistas presencialmente, só participaram aqueles com conexão à internet.d ‘A gente sabe que os dados da pesquisa não refletem a realidade das crianças e dos adolescentes mais pobres’, Polanczyk diz. Ainda assim, os resultados indicaram que a insegurança alimentar esteve associada a maiores níveis de ansiedade e a sintomas depressivos. […]

[…]

O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde não aponta causas exatas do sofrimento mental dos jovens brasileirose, mas dá a entender que certas particularidades ajudariam a explicar o aumento das taxas de suicídio juvenil. Com base em estudos americanos, menciona que a geração Z, formada por nascidos a partir de 1995, está mais propensa a ter depressão por ser menos resiliente e não saber lidar com frustrações. […]

[…]”

Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/z-de-depressao/. Acesso em: 22/07/2022

 

O título “Z de depressão” captura, de forma concisa, a ideia central do texto. Essa mesma ideia é retomada, de maneira mais detalhada, na seguinte passagem:

 

“Até os 8 anos, levou a vida tranquila de alguém que cresce numa cidade pequena”;
“Mas então um dos seus tios se matou”;
“um quadro de adoecimento mental de crianças e jovens brasileiros, com casos repetidos de depressão, ansiedade e síndrome do pânico”;
“Como as escolas estavam fechadas e seria perigoso realizar as entrevistas presencialmente, só participaram aqueles com conexão à internet”;
“O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde não aponta causas exatas do sofrimento mental dos jovens brasileiros”

Identificar a ideia central do texto é fácil, ela se relaciona ao aumento da depressão entre os jovens da Geração Z (aqueles nascidos a partir de 1995).

Para responder corretamente à pergunta, é preciso identificar um trecho que fale diretamente sobre esse aumento da depressão nessa geração. A alternativa correta deve mencionar de forma clara esse problema de saúde mental, que é o foco do título “Z de depressão”.

a) “Até os 8 anos, levou a vida tranquila de alguém que cresce numa cidade pequena”;
Incorreta. Esse trecho narra apenas as situações da vida de Caio.

b)  “Mas então um dos seus tios se matou”;
Incorreta. O trecho fala novamente sobre situações que contribuíram para o quadro depressivo enfrentado por Caio.

c)  “um quadro de adoecimento mental de crianças e jovens brasileiros, com casos repetidos de depressão, ansiedade e síndrome do pânico”;
Correta. O trecho fala explicitamente sobre a depressão. Além disso, menciona “crianças e jovens brasileiros”, o que remete à geração Z.

d)  “Como as escolas estavam fechadas e seria perigoso realizar as entrevistas presencialmente, só participaram aqueles com conexão à internet”;
Incorreta. O trecho fala sobre uma pesquisa realizada em 2020 pela USP e pelo Hospital das Clínicas.


e)  “O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde não aponta causas exatas do sofrimento mental dos jovens brasileiros”
Incorreta. O trecho fala sobre um documento emitido pelo Ministério da Saúde.

 

Informações Explícitas e Implícitas

Como vimos na questão anterior, um texto apresenta informações explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas manifestadas pelo autor no próprio texto. As informações implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem ser subentendidas.

Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas.

Por exemplo, observe este enunciado:
– Luana parou de tomar refrigerante.

A informação explícita é “Luana parou de tomar refrigerante”. A informação implícita é “Luana tomava refrigerante antes”.

Agora, veja este outro exemplo:
-Felizmente, Luana parou de tomar refrigerante.

A informação explícita é “Luana parou de tomar refrigerante”. A palavra “felizmente” indica que o falante tem uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita.

Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir informações a partir de um texto. Fazer uma inferência significa concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida.

Fazer inferências é uma habilidade fundamental para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados de concursos.

A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser inferidas: as pressupostas e as subentendidas.

Pressuposto

Pressuposto é algo que o autor não diz diretamente, mas espera que o leitor já saiba ou deduza. É como uma informação que está implícita, ou seja, não aparece de forma clara, mas está “escondida” nas entrelinhas.

Por exemplo, se alguém diz “João conseguiu parar de fumar”, está pressuposto que João fumava antes.
O pressuposto é, então, aquilo que a gente entende sem que precise ser explicado explicitamente.

Subentendido

Subentendido é algo que não está dito de forma clara, mas que podemos entender por conta própria com base no que está escrito. Diferente do pressuposto, que é uma informação já conhecida, o subentendido é algo que o leitor deduz pela forma como as palavras foram usadas.

É como uma pista ou indireta.

Por exemplo, se alguém diz “A Ana chegou cedo hoje”, pode estar subentendido que a Ana costuma chegar tarde, mesmo que isso não tenha sido dito diretamente.
Então, o subentendido é o que a gente capta do texto, mesmo sem estar claramente escrito.

Questão de Concurso – Instituto ACCESS – 2020 – Consultor Jurídico – Mangaratiba

Leia a frase pronunciada pelo ator Chadwick Boseman no filme “Pantera negra”

Pressuposto e Subentendido Questão de Concurso

Sabendo-se que os pressupostos e subentendidos são informações implícitas em um texto, não expressas formalmente, apenas sugeridas por marcas linguísticas ou pelo contexto, analise as afirmações a seguir:

I. A pressuposição está na ideia de que, em tempo de harmonia e paz, os sábios e os tolos não são construtivos para a sociedade. E o que está subentendido é que só parecem para atuar na sociedade no momento oportuno.

II. A pressuposição está na ideia de que os sábios e os tolos são proativos quando é necessário. E o que está subentendido é que os tolos, visto que são tolos, sabotam a sociedade, promovendo problemas.

III. A pressuposição está na ideia de que, em tempos de crise, os sábios tentam transformar problemas em soluções; enquanto os tolos patrocinam mais problemas. E o que está subentendido é que, em uma sociedade, há muitas pessoas despreparadas para empreender e outras preparadas para conviver.

Responda:

A – se somente a afirmativa I estiver correta.
B – se somente a afirmativa II estiver correta.
C – se somente a afirmativa III estiver correta.
D – se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
E – se todas as afirmativas estiverem corretas.

Resposta Correta: Letra D

Essa questão caiu no ENEM:

Questão Inferencia - 1

A capa da revista Época de 12 de outubro de 2009 traz um anúncio sobre o lançamento do livro digital no Brasil. Já o texto II traz informações referentes à abrangência de acessibilidade das tecnologias de comunicação e informação nas diferentes regiões do país. A partir da leitura dos dois textos, infere-se que o advento do livro digital no Brasil

a) possibilitará o acesso das diferentes regiões do país às informações antes restritas, uma vez que eliminará as distâncias, por meio da distribuição virtual.

b) criará a expectativa de viabilizar a democratização da leitura, porém esbarra na insuficiência do acesso à internet por telefonia celular, ainda deficiente no país.

c) fará com que os livros impressos tornem-se obsoletos, em razão da diminuição dos gastos com os produtos digitais gratuitamente distribuídos pela internet.

d) garantirá a democratização dos usos da tecnologia no país, levando em consideração as características de cada região no que se refere aos hábitos de leitura e acesso à informação.

e) impulsionará o crescimento da qualidade da leitura dos brasileiros, uma vez que as características do produto permitem que a leitura aconteça a despeito das adversidades geopolíticas.

Essa é fácil, o enunciado da questão usa o verbo “inferir”, ou seja, espera-se que o candidato seja capaz de chegar a uma conclusão a partir da leitura dos dois textos.

Se os textos forem lidos isoladamente, o candidato pode se confundir e errar. A análise do gráfico deve inferir que a cobertura de telefonia celular é limitada a apenas algumas regiões do Brasil, o que dificulta a democratização do acesso ao livro digital.

Resposta Correta: Letra B

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Variação de Linguagem

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